Sequelas da Covid-19: desafios e intervenções da enfermagem

A Covid-19 é uma doença causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) que se espalhou pelo mundo em 2020, provocando uma pandemia sem precedentes na história recente. A doença afeta principalmente o sistema respiratório, mas pode causar complicações em diversos órgãos e sistemas, como o cardiovascular, o renal, o neurológico e o imunológico. Além disso, a Covid-19 pode deixar sequelas físicas, psicológicas e sociais nos pacientes que se recuperam da infecção, como fadiga, falta de ar, perda de olfato e paladar, depressão, ansiedade, estresse pós-traumático e estigma.

Nesse contexto, a enfermagem tem um papel fundamental no combate à pandemia, tanto na prevenção e controle da transmissão do vírus, quanto na assistência e reabilitação dos pacientes com Covid-19. Os profissionais de enfermagem estão na linha de frente do cuidado, atuando em todas as etapas do processo de saúde-doença, desde a triagem e coleta de amostras para diagnóstico, até a aplicação de vacinas e o acompanhamento pós-alta hospitalar. Além disso, a enfermagem tem uma função humanizadora, facilitando a comunicação entre os pacientes e seus familiares, que muitas vezes são impedidos de visitá-los por causa do isolamento.

No entanto, a enfermagem também enfrenta diversos desafios e dificuldades nesse cenário de crise sanitária. Os profissionais de enfermagem estão expostos a um alto risco de contaminação pelo vírus, devido à escassez de equipamentos de proteção individual (EPIs), à sobrecarga de trabalho e à falta de infraestrutura adequada nos serviços de saúde. Além disso, eles sofrem com o impacto emocional da pandemia, que pode gerar sentimentos de angústia, medo, incerteza, culpa e luto. Esses fatores podem comprometer a saúde mental dos profissionais de enfermagem e afetar a qualidade do cuidado prestado aos pacientes.

Diante disso, este artigo tem como objetivo discutir as sequelas da Covid-19 nos pacientes e na sociedade, bem como a atuação da enfermagem na prevenção, assistência e reabilitação desses indivíduos. Espera-se que este artigo contribua para a valorização da enfermagem como uma profissão essencial no enfrentamento à pandemia e para a promoção da saúde integral dos pacientes com Covid-19.

Covid-19

Sequelas da Covid-19

As sequelas da Covid-19 podem ser definidas como as alterações funcionais ou estruturais que persistem após a recuperação clínica da infecção pelo SARS-CoV-2. Essas sequelas podem variar de acordo com a gravidade, a duração e a extensão da doença, bem como com as características individuais de cada paciente, como idade, sexo, comorbidades e hábitos de vida. Além disso, as sequelas podem se manifestar em diferentes sistemas e órgãos, como o respiratório, o cardiovascular, o renal, o neurológico e o imunológico. A seguir, serão descritas as principais sequelas da Covid-19 e as intervenções da enfermagem para cada uma delas.

Sequelas respiratórias

As sequelas respiratórias são as mais frequentes e evidentes nos pacientes com Covid-19, especialmente naqueles que necessitaram de ventilação mecânica invasiva ou não invasiva. Entre as sequelas respiratórias, destacam-se a fibrose pulmonar, a redução da capacidade pulmonar, a hipoxemia persistente e a dispneia crônica. Essas alterações podem comprometer a qualidade de vida dos pacientes, limitando suas atividades diárias e aumentando o risco de infecções respiratórias recorrentes.

A enfermagem tem um papel importante na prevenção, detecção e tratamento das sequelas respiratórias nos pacientes com Covid-19. Entre as intervenções da enfermagem, estão:

  • Realizar uma avaliação respiratória completa e periódica, incluindo a ausculta pulmonar, a oximetria de pulso, a espirometria e a gasometria arterial.
  • Monitorar os sinais vitais e os parâmetros ventilatórios dos pacientes em ventilação mecânica, ajustando-os conforme a necessidade e seguindo os protocolos institucionais.
  • Aplicar técnicas de higiene brônquica, como a aspiração traqueal, a nebulização e a fisioterapia respiratória, visando à remoção das secreções e à melhora da ventilação pulmonar.
  • Estimular os pacientes a realizarem exercícios respiratórios, como a inspiração profunda, a expiração forçada e o uso de dispositivos incentivadores, como o espirômetro de incentivo.
  • Orientar os pacientes sobre os cuidados domiciliares com a respiração, como a manutenção da hidratação, da alimentação saudável, do repouso adequado e da cessação do tabagismo.
  • Encaminhar os pacientes para programas de reabilitação pulmonar multidisciplinar, quando indicado.

Sequelas Psicológicas

As sequelas psicológicas da Covid-19 são as alterações emocionais e cognitivas que podem persistir após a recuperação da infecção pelo vírus SARS-CoV-2. Essas sequelas podem incluir ansiedade, depressão, estresse pós-traumático, insônia, dificuldade de concentração, esquecimento, cansaço e névoa mental. Essas alterações podem ser causadas pela própria ação do vírus no sistema nervoso central, pela resposta inflamatória exagerada do organismo, pelo impacto emocional da pandemia e pelo isolamento social.

As sequelas psicológicas da Covid-19 podem afetar tanto os pacientes que tiveram formas graves da doença e foram hospitalizados, quanto os que tiveram sintomas leves ou assintomáticos. As sequelas podem se manifestar de forma imediata ou tardia, sendo necessária uma avaliação e um acompanhamento profissional dos pacientes recuperados da Covid-19. Alguns dos tratamentos possíveis para as sequelas psicológicas da Covid-19 são o uso de medicamentos, a psicoterapia, a reabilitação cognitiva e a participação em grupos de apoio.

Sequelas Sociais

As sequelas sociais são as consequências que a pandemia tem sobre a vida das pessoas, as relações sociais, a economia, a cultura e a política. Elas podem ser de curto, médio ou longo prazo, e podem afetar diferentes grupos e populações de forma desigual.

Algumas das sequelas sociais da Covid-19 são:
  • O aumento da pobreza, da desigualdade e da vulnerabilidade social, devido à perda de renda, ao desemprego, à inflação e à falta de políticas públicas efetivas.
  • O impacto na educação, com o fechamento das escolas, a dificuldade de acesso ao ensino remoto, a evasão escolar, o atraso na aprendizagem e o aumento da violência doméstica contra crianças e adolescentes.
  • O prejuízo na saúde mental, com o aumento dos casos de ansiedade, depressão, estresse pós-traumático, insônia e suicídio, tanto entre os pacientes que tiveram Covid-19 quanto entre os profissionais de saúde e a população em geral.
  • A violação dos direitos humanos, com o aumento da violência policial, do racismo, da xenofobia, da discriminação, da violência de gênero e da violência contra grupos vulneráveis, como indígenas, quilombolas e moradores de favelas.
  • A crise política e institucional, com o aumento da polarização, do negacionismo, da desinformação, da corrupção, do autoritarismo e do enfraquecimento da democracia.
Essas são apenas algumas das sequelas sociais da Covid-19 que precisam ser enfrentadas com urgência e responsabilidade. É preciso fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS), garantir o acesso universal à vacinação, ampliar as medidas de proteção social e econômica, promover a educação em saúde e em direitos humanos, combater as fake news e defender a ciência e a participação popular.

Conclusão:

A COVID-19 é uma doença causada pelo vírus SARS-CoV-2, que pode afetar diversos sistemas e órgãos do corpo humano, deixando sequelas que podem comprometer a saúde e a qualidade de vida dos pacientes. As sequelas mais frequentes e evidentes são as respiratórias, mas também podem ocorrer sequelas cardiovasculares, renais, neurológicas e imunológicas. Essas sequelas podem se manifestar de forma imediata ou tardia, sendo necessária uma avaliação e um acompanhamento multidisciplinar dos pacientes recuperados da COVID-19.

A enfermagem tem um papel fundamental na prevenção, detecção e tratamento das sequelas da COVID-19, bem como na promoção da saúde e na reabilitação dos pacientes. Para isso, é importante que os profissionais de enfermagem estejam atualizados sobre as evidências científicas disponíveis sobre as possíveis sequelas da doença, bem como sobre as intervenções de enfermagem mais adequadas para cada situação. Algumas das intervenções de enfermagem para as sequelas da COVID-19 são:

  • Realizar uma anamnese e um exame físico completos, identificando os fatores de risco, os sinais e os sintomas das sequelas da COVID-19.
  • Solicitar e interpretar os exames complementares necessários, como radiografia de tórax, tomografia computadorizada, ecocardiograma, eletrocardiograma, dosagem de creatinina, ureia e eletrólitos, análise do líquido cefalorraquidiano, entre outros.
  • Prescrever e administrar os medicamentos indicados para o tratamento das sequelas da COVID-19, como anti-inflamatórios, anticoagulantes, broncodilatadores, corticoides, diuréticos, entre outros.
  • Realizar e orientar os cuidados de enfermagem específicos para cada sequela da COVID-19, como a higiene brônquica, a oxigenoterapia, a ventilação mecânica, a hidratação venosa, a nutrição enteral ou parenteral, a mobilização precoce, a fisioterapia respiratória e motora, entre outros.
  • Educar e apoiar os pacientes e seus familiares sobre as sequelas da COVID-19, esclarecendo as dúvidas, fornecendo informações sobre o prognóstico, a prevenção de complicações e a adesão ao tratamento.
  • Encaminhar os pacientes para os serviços especializados de reabilitação física, psicológica e social, quando necessário.
  • Registrar todas as ações de enfermagem realizadas no prontuário do paciente, seguindo os princípios éticos e legais da profissão.

A COVID-19 é uma doença nova e desafiadora para a ciência e para a saúde. Por isso, é essencial que os profissionais de enfermagem estejam preparados para enfrentar essa pandemia e suas consequências. A atualização constante do conhecimento científico e a adoção de boas práticas de enfermagem são fundamentais para garantir uma assistência segura, efetiva e humanizada aos pacientes com sequelas da COVID-19.

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